domingo, 5 de outubro de 2014

Tema da semana: Futebol e Cultura

O ENEM está próximo!

Cada dia sem estudar pode influenciar em sua nota. Não perca tempo!

Segue a proposta de tema da semana: Futebol e Cultura

O futebol é um dos esportes mais populares do mundo. Jogado em centenas de países, esse esporte tem uma importância fundamental na formação cultural brasileira. Utilizando os textos abaixo e seus conhecimentos sobre o assunto, escreva uma redação dissertativa-argumentativa sobre o tema:
A influência do futebol na cultura brasileira. 

Texto 1:

Se no Brasil infelizmente o gosto pela literatura ainda não é uma paixão de todos, o mesmo não se pode dizer do futebol. O esporte mais popular de nosso país, não raramente é conhecido como uma arte e seus jogadores como “artistas da bola”. Enquanto que no campo da estética, seus seguidores são conhecidos como “amantes da arte”, no futebol nacional a palavra que se usa é “torcedor”, mas não foi sempre assim: Na Inglaterra, terra de origem do futebol ainda se usa o termo “support” ou “fan”. O abrasileiramento para torcedor se deu, segunda consta nos livros, que, nas primeiras décadas de nosso século, as mulheres iam assistir aos jogos com seus lenços e em momentos de tensão “torciam-nos”, até que um atento cronista começou a chamar esse público de “torcedor”. Eis a criação e o motivo do termo.
Este e mais outros temas foram abordados na Bienal do Livro 2013, em um bate-papo entre os escritores José Miguel Wisnik e Bernardo Buarque de Hollanda chamado Amor e Ódio na Arquibancada, em um simpático espaço que se cunhou chamar de Placar Literário, lugar exclusivo onde se debate literatura e futebol. Entre os temas abordados na conversa está a elitização do futebol com o novo “padrão fifa”, as novas arenas e a ebulição das manifestações que parecem mudar a nossa ideia de que o futebol, aqui, é o ópio do povo.

A figura do torcedor, a violência e as novas arenas
Wisnik, ao falar de seu livro Veneno Remédio: o futebol e o Brasil, conta que torcer por um time é uma das escolhas mais importantes de um sujeito: é possível trocar de partido político, profissão, religião e até de parceiro/parceira, mas de time de futebol é um grave defeito. Isso se dá, segundo ele, porque esse time escolhido, a única coisa que permanece na vida de um sujeito, é escolhido por paixão, mas uma paixão narcísica que fala diretamente a ele. A escolha de seu time faz com que ele se olhe e o ajuda aser. Além disso, o time dá outro elemento da nossa composição de indivíduo, a figura do “antagonista”, que forma nossa identidade como oposição: quem sou eu e quem é esse outro que torce por um outro?
A questão da violência – entre o amor e o ódio – se dá quando o prazer de opor o outro sai das quatro linhas e se volta diretamente para o corpo do adversário, como se o grande prazer não estivesse em ganhar o jogo, mas sim em ver o outro perder em todos os sentidos.
Bernardo Buarque de Hollanda, no mesmo caminho, aborda a ideia de que o futebol do Brasil se mistura com a nossa cultura, desde a música até o modo de ser. Isso poderia ser visto de alguma maneira como uma mundialização do futebol, o que segundo ele é equivocado, pois na verdade o que se vê é a “futebolização do mundo”.
Essa postura de ser e viver futebol em diversos campos da vida (até sendo usado como metáfora para falas políticas como muitas vezes fez nosso ex-presidente Lula), acaba por dar uma ideia de que a identidade que se dá a partir da escolha do futebol compõe um corpo que torce (ou contorce) cuja lógica de pathos pode avançar até ao símbolo de querer ultrajar e aniquilar o outro.
Ambos veem nisso um movimento de difícil equilíbrio, porque a paixão necessita necessariamente dessa balança que oscila, que pende e varia, mas ao mesmo tempo percebem o perigo de qualquer paixão levada ao extremo. Sobre esse fato concordam em apenas uma coisa: as novas arenas prometem acabar com a relação direta entre torcida e futebol, tornando o que chamam de “asfixia do popular”, aonde um torcedor vai ao estádio como vai ao teatro. Trata-se de um torcedor tornado consumidor, sem participação naquele caldeirão social, apenas um agente que espera regalias, conforto, garantias, proteções, ao invés da ebulição catártica, que poderia lembrar o coliseu grego e as toradas de Madri.
A frase que resume toda essa ponto, segundo Wisnik e Bernardo Buarque é: o futebol vai continuar popular, mas os estádios não.
Futebol e manifestações: uma relação pacificada?
O futebol sempre foi (e ainda é) visto como fator de alienação. Embora muito jornalista da área como faça como Juca Kfouri que repete aos sete ventos que não acredita em intelectual sem o fundo das calças gastos pelas arquibancadas, o nosso esporte favorito ainda é visto como algo prejudicial, como se o povo, ao ver um jogo, uma bola, deixasse de se preocupar com os problemas de nossa sociedade como saúde, educação etc.
Os debatedores, no entanto, colocam que a ebulição das manifestações vem mostrar que isso não é completamente verdadeiro. Wisnik destaca que o estádio sempre foi uma espécie de alegoria do Brasil, apontando para o fato dele ser o único esporte onde você lida com o fator jogo aceitando a injustiça: há uma relação instável em que nem sempre o melhor ganha. Segundo ele, o tênis, o basquete e o vôlei se dão sempre numa disputa entre ataque contra defesa, lance a lance valendo ponto, enquanto que o futebol é um e outro ao mesmo tempo e isso, em todos os países refletem suas próprias culturas.
As manifestações, então, tomando o lugar da nova representação de um novo Brasil apresentam um fato determinante: o distanciamento entre o povo e a seleção que se tornou apenas objeto para exportação. Para se ter uma ideia, durante a década de 90, segundo Bernardo Buarque de Hollanda, menos de cinco jogos da seleção foram disputados no Maracanã o que, inevitavelmente, faz com que o torcedor se vincule diretamente ao clube, não ao futebol-país. Ora, não seria esse um agravante para a revolta das manifestações? Para eles, o que acontece é que o brasileiro tem em relação à seleção (uma aproximação afetiva bem antiga) uma visão quase infantil: ou se tem tudo, ou nada – ou a seleção é a melhor ou é a pior. Esse afastamento é, por fim, constatado depois de um longo trajeto cuja única certeza é que em 2014 não se terá a Copa do Mundo do Brasil, mas a Copa do Mundo NO Brasil.
A questão é preguntar para qual Brasil será essa copa, creio que não a daquele povo que pulsava como um narciso frente ao espelho, mas a Copa das empresas, dos mercados, dos consumidores e dos turistas.
Texto 2


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