sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Dúvidas comuns sobre a redação do Enem - Revista Língua Portuguesa

Resolvemos incluir em nosso Blog um texto muito pertinente sobre a Redação do ENEM retirado da Revista Língua Portuguesa:

Dúvidas comuns sobre a redação do Enem

Selecionei as dúvidas seguintes com base em perguntas frequentes dos alunos:

Por Chico Viana


Um erro pode determinar a penalização do candidato em mais de uma Competência? 
Sim. Como o texto é uma estrutura, as camadas que o constituem são solidárias, interferem umas nas outras. Um problema no emprego do pronome relativo, por exemplo, tanto constitui uma infração à norma quanto compromete a coesão. Nesse caso, o candidato é penalizado nas Competências 1 e 4. Semelhantemente, o uso inadequado de um vocábulo pode comprometer a coerência, o que representa uma infração às Competências 1 e 3 (o item "precisão vocabular", por sinal, é mencionado nas instruções referentes a essas duas).

A proposta de intervenção deve aparecer somente no parágrafo conclusivo?
Não, embora seja recomendável. Numa das redações divulgadas no "Guia do Participante 2013", a candidata C. L. S. começa a fazer propostas a partir do penúltimo parágrafo (ver a página 34). Ela escreve, por exemplo, que o governo "poderia começar a implantar, nas regiões por onde chegam os imigrantes, mais órgãos e agências que oferecessem serviços de visto e da carteira de trabalho". A seguir propõe que, nos destinos finais dos imigrantes, lhes sejam oferecidos cursos de português e de qualificação para atuar no mercado de trabalho. Na conclusão, faz uma retomada do que foi dito e acrescenta um tempero retórico, referindo-se à hospitalidade e à criatividade do brasileiro.
O risco de antecipar as propostas é conceder pouco espaço à argumentação, o que pode fragilizar a defesa do ponto de vista. A Banca não considerou que isso aconteceu na redação da candidata, tanto que lhe deu nota 1000.

O modo de pensar dos corretores pode influenciar o julgamento do texto? 
Não. A Banca avalia a redação segundo os critérios apresentados nas cinco Competências. O candidato é livre para expressar a sua opinião e deve fazê-lo com a máxima liberdade possível. Afinal, escreve melhor quem é fiel a si mesmo. Geralmente os que redigem pensando em "agradar a Banca" produzem um texto insosso e inconvincente, a que falta convicção. Há limites para dizer o que se pensa, claro, mas eles estão indicados no guia; consistem em respeitar os direitos humanos, não demonstrar preconceito com as minorias e evitar impropérios, brincadeiras ou "outras formas propositais de anulação".

O que é mais importante - o conteúdo ou a forma? 
Os dois têm igual importância. Não há como dissociar um da outra, pois o que se diz se expressa na forma como se diz. Boas ideias se perdem caso não estejam adequadamente formuladas. A boa formulação, é bom lembrar, envolve não apenas a correção gramatical como também a coerente estruturação do pensamento.

Pode-se terminar a introdução com uma pergunta? 
Em princípio nada impede que isso ocorra, mas é preferível o discurso afirmativo. Mesmo porque, na maioria das vezes, a pergunta que aparece nessa parte do texto é uma afirmação disfarçada. Suponha que o aluno termine o parágrafo introdutório, perguntando: "Mas será que as medidas tomadas pelo governo para aumentar a mobilidade urbana satisfazem as necessidades do cidadão?" Tacitamente ele já está afirmando que tais medidas são insuficientes. Por que, então, não ir dizer isso numa frase declarativa? O modo afirmativo, por ser direto, ajusta-se melhor à manifestação do ponto de vista.

É necessário apresentar citações na redação?
Não. Quando aparecem, as citações constituem um bom reforço argumentativo, mas a falta delas não significa que o texto seja argumentativamente inferior. Há outras formas de tornar consistente o ponto de vista. O que não pode faltar é uma boa dose de informação sobre o tema. Sem ter o que dizer, é impossível levar adiante qualquer discussão. Ninguém pode se posicionar sobre o que não conhece.

O que significa usar a modalidade escrita formal da língua? Que tem isso a ver com "escrever difícil"? 
Significa respeitar a norma culta e usar um vocabulário sóbrio, transparente, que nada tem a ver com "escrever difícil". Muitos confundem o respeito ao padrão normativo com o emprego de termos ligados a certas áreas do conhecimento (filosofia, psicologia, sociologia etc), que dão ao texto um ar falsamente intelectual. Foi o caso de um aluno que, numa redação sobre o culto à personalidade, escreveu: "A sociedade atual está imersa em divergências das massas pensantes. O poder cognitivo das influências midiáticas tende a desenvolver nos seres humanos a reflexão mais profunda do eu interior. Buscam então uma personalidade heroica, que irá solucionar todos os problemas do mundo.".

Como extrair ideias claras desse emaranhado pretensioso? Nele há expressões pomposas (massas pensantes), exageros semânticos (imersa em divergências) e uso inadequado de termos técnicos (poder cognitivo, eu interior). Cortando essas impropriedades, chega-se a uma versão aproximada do que o autor quis dizer: "A fim de lidar com as contradições da sociedade, muitos aproveitam a influência da mídia para se espelhar em personalidades 'heroicas', que irão resolver os problemas do mundo."

O segredo, como se vê, está na simplicidade.
Fonte: http://revistalingua.uol.com.br/textos/blog-ponta/duvidas-comuns-sobre-a-redacao-do-enem-329850-1.asp

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