Usa-se a vírgula:
1) Para separar os termos da mesma função, assindéticos.
Exemplos: “(...) vieram os
Goncourts, os Daudets, os Baudelaires, os Banvilies, os Zolas, os
impressionistas, os naturalistas, os realistas, os simbolistas... imaginando,
forjando, engendrando, importando, amalgamando, tumultuando, carreando,
golfando para o vocabulário, para a sintaxe, para a rua, para as letras, para a
especulação, para o trabalho, para a vida uma torrente de formas inesperadas,
cambiantes, revolucionárias...” (RUI BARBOSA)
“Era o nada, a eversão do caos no cataclismo,
A síncope do som no páramo profundo, O silêncio, a algidez, o vácuo, o horror
do abismo....” (OLAVO BILAC)
Nota:
Havendo a conjunção e entre os dois últimos termos, suprime-se a vírgula:
Sem pressa,
sem pesar, sem alegria, Sem alma, o tecelão, que cabeceia, Carda, retorce,
estira, asseda, fia, Dobra e entrelaça, na infindável teia.” (OLAVO BILAC)
2) Para isolar o vocativo: “Deixe-me, senhora.” (MACHADO
DE Assis)
“Ó meu Amor, que já
morreste, Ó meu Amor, que morta estás! Lá nessa cova a que desceste, O meu
Amor, que já morreste, Ah! nunca mais florescerás?!” (CRUZ E Souza)
“Varrei os mares, tufão!...”
(CASTRO ALVES)
3) Para isolar o aposto:
“Matias, cônego honorário e pregador efetivo,
estava compondo um sermão...” (MACHADO DE Assis)
“Dou-te meu coração irreverente, Meus penachos
de Cid, o Campeador...” (José OITICICA)
4) Para
assinalar a inversão dos adjuntos adverbiais:
“Por impulso instantâneo, todo o ajuntamento
se pôs de pé. (REBELO DA SILVA)
Nota: Aliás, sendo o adjunto
adverbial de pouca longura, expresso, por exemplo, um simples advérbio, pode
dispensar-se a vírgula.
5) Para marcar a supressão do verbo:
“Uma flor, o Quincas Borba.”
(MACHADO DE Assis)
“Eu sou empregado público: Tu,
minha noiva bem cedo. Eu sou Artur Azevedo; Tu és Carlota Morais.” (ARTUR
AZEVEDO)
6) Nas datas:
“Milão, 9 de março de 1909.”
“Rio, 1 de junho de 1902.” “31, janeiro, 1902.” “Rio, 2-4-904.”
Nota: Os três primeiros
exemplos são de OLAVO BILAC, e o último de Euclides da Cunha. Todos, de cartas
a Coelho Neto. Observe-se que, invariavelmente, os nomes dos meses (março,
junho, janeiro) estão grafados com letra minúscula. Tais cartas, primorosos modelos
de epistolografia brasileira, estão publicadas na íntegra, no Manual de estilo,
do professor José Oiticica (pp. 187 a 200).
7) Nas construções em que o
complemento do verbo, por vir anteposto a este, é repetido depois dele por um
pronome enfático:
“Arquiteto do mosteiro de Santa
Maria, já o não sou.” (ALEXANDRE HERCULANO) “Ao pobre, não lhe devo. Ao rico,
não lhe peço.” (RODRIGUES Lono)
8) Para isolar certas palavras
e expressões explicativas, corretivas, continuativas, conclusivas, tais como:
por exemplo, além disso, isto
é, a saber, aliás, digo, minto, melhor, ou antes, outrossim, demais,
entretanto, com efeito, etc
9) Para
isolar orações ou termos intercalados:
“A mim me
parece, tornou Leonardo, que os títulos é cousa Conveniente e necessária.” (
RODRIGUES LOBO)
Nota: Se for muito longa a
intercalação, ou quisermos dar relevo à palavra, expressão ou oração
intercalada, poderemos usar o travessão: ‘Vi a ciência desertar do Egito... Vi
meu povo seguir - Judeu maldito - Trilho de perdição...” (CASTRO ALVES)
Pode usar-se, ainda, os
parênteses, e não a vírgula, quando a palavra, expressão ou oração intercalada
figurar sem relação sintática com o resto, fora do fio principal do discurso, à
maneira de um esclarecimento ou observação suplementar.
Exemplos: ‘Pouco depois de transpor o portão
da lúgubre morada, veio a mim um amigo vestido de preto, que me apertou a mão.
Tinha ido visitar os restos da esposa (uma santa!), suspirou e concluiu: - Que
há de novo?” (MACHADO DE ASSIS)
“É o fim (rola o trovão...) da
miseranda sorte...” (OLAVO BILAC)
10) Para separar as orações
coordenadas assindéticas:
“Há sol, há muito sol, há um dilúvio de sol.”
(HERMES FONTES)
“Não aquieta o pó, nem pode
estar quedo; anda, corre, voa; entra por esta rua, sai por aquela; já vai
adiante, já torna atrás; tudo enche, tudo cobre, tudo envolve, tudo perturba,
tudo toma, tudo cega, tudo penetra...” (VIEIRA)
11) Para separar as orações
coordenadas ligadas pela conjunção e, quando os sujeitos forem diferentes:
“Aires Gomes estendeu o
mosquete sobre o precipício, e um tiro saudou o ocaso.” (JOSÉ DE ALENCAR)
“Veio a noite do baile, e a
baronesa vestiu-se.” (MACHADO DE ASSIS)
Nota: Para acentuar, numa
enumeração, o vulto das coisas enumeradas, é lícito empregar repetidamente a
conjunção e. Neste caso, as várias palavras, expressões ou orações, são
separadas por vírgulas, apesar da presença do e.
Exemplos: “Seca a terra
aparece, e nela é tudo Informe, e rude, e solitário, e mudo.” (J. A. DE MACEDO)
‘E eu morrendo! e eu morrendo,
Vendo-te, e vendo o sol, e vendo o céu, e vendo Tão bela palpitar nos teus
olhos, querida, A delícia da vida! a delícia da vida!” (OLAVO BILAC)
12) Para separar as orações
coordenadas ligadas pelas conjunções : mas, senão, que, pois, porque, ou pelas
alternativas: ou... ou;
ora..,
ora,’ quer... quer, etc.
“Não és filha, mas hóspeda da Terra!” (OLAVO BILAC) 461
“Não és filha, mas hóspeda da Terra!” (OLAVO BILAC) 461
“Não se deve julgar o homem por
uma só ação, senão por tas.” (CARNEIRO RIBEIRO) “Fiquem-se com o Senhor, que eu
vou-me.” (CASTILHO)
“Ou o conhece, ou não.”
(VIEIRA)
Nota: Quanto à conjunção mas,
se for muito frisante o sentido adversativo,
pode-se usar o ponto e vírgula.
Exemplo: Defenda-se; mas não se
vingue.” (JOSÉ OITICICA)
13) Para isolar as conjunções
adversativas porém, todavia, entretanto,
no entanto, contudo; e as
conjunções conclusivas: logo, pois, portanto, "Contudo, ao sair de lá,
tive umas sombras de dúvida..." (MACHADO DE Assis)
“Nada diminuía, portanto, as
probabilidades do perigo e a poesia da luta.” (REBELO DA SILVA)
14) Para separar as orações
consecutivas:
Exemplo: “(...) e o fulgor das pupilas negras
fuzilava tão vivo e por vezes tão recobrado, que se tornava irresistível.”
(REBELO DA SILVA)
15) Para separar as orações
subordinadas adverbiais (iniciadas pelas conjunções subordinativas
não-integrantes), quer antepostas, quer postas à principal.
Exemplos: “Juro que ela sentiu
certo alívio, quando os nossos olhos se encontraram...” (MACHADO DE ASSIS)
“Enquanto o senhor escarneceu o feitio das
minhas botas, e no seu ofício e no seu direito. Das botas acima, não.” (CAMILO
CASTELO BRANCO)
16) Para separar os adjetivos e
as orações adjetivas de sentido explicativo, ou, como lhes chama o professor
José Oiticica, orações adjetivas e adjetivos parentéticos.
“É indispensável, nesse caso,
distinguir se a oração é mesmo parentética ou meramente determinativa. A oração
parentética, em por seus característicos de forma e posição seja adjetiva, tem,
no sentido, algo de adverbial, apontando vagamente a causa, a concessão, a
condição.
“Exemplos: A cabroeira, alucinada, gritava
atrozmente (isto é: porque estava alucinada). A ele, que é o decano da
corporação, nenhum preito lhe renderam (isto é: apesar de ser o decano da
corporação...). “O critério para verificar isto é tentar a inversão. A oração
parentética pode ser anteposta ao substantivo a que se prende; a determinativa,
nunca. Assim, temos: - Alucinada, a cabroeira gritava atrozmente. - Decano da
corporação, nenhum preito lhe renderam.” *
17) Para separar as orações
reduzidas de gerúndio, particípio e infinitivo.
Exemplos: “Lactescente, a neblina oplica
flutua, Diluindo, evaporando os montes de granito, Em colossos de sonho,
extasiados de lua...” (GUERRA JUNQUEIRO) “Puma! ao fim da Renúncia e ao fim da
Caridade Chegaste, estrangulando a tua humanidade.” (OLAVO BILAC)
“A brisa, roçando as grimpas da
floresta, traz um débil sussurro...” (JOSÉ DE ALENCAR) “Caindo o sol, a
costureira dobrou a costura para o dia seguinte...” (MACHADO DE Assis)
“Satisfeita a sede... e comidas umas colheres de farinha de mandioca ou de
milho..., estira-se a fio comprido sobre os arreios desdobrados...” (VISCONDE
DE TAUNAY)
“Pera servir-vos, braço às
armas feito; Pera cantar-vos, mente às Musas dada...” (CAMÕES)
Texto retirado da Grámatica Normativa da Língua Portuguesa , do Professor Rocha Lima.
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