quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Uso da vírgula

 Usa-se a vírgula:
1)     Para separar os termos da mesma função, assindéticos.
Exemplos: “(...) vieram os Goncourts, os Daudets, os Baudelaires, os Banvilies, os Zolas, os impressionistas, os naturalistas, os realistas, os simbolistas... imaginando, forjando, engendrando, importando, amalgamando, tumultuando, carreando, golfando para o vocabulário, para a sintaxe, para a rua, para as letras, para a especulação, para o trabalho, para a vida uma torrente de formas inesperadas, cambiantes, revolucionárias...” (RUI BARBOSA)
 “Era o nada, a eversão do caos no cataclismo, A síncope do som no páramo profundo, O silêncio, a algidez, o vácuo, o horror do abismo....” (OLAVO BILAC)
Nota: Havendo a conjunção e entre os dois últimos termos, suprime-se a vírgula:
Sem pressa, sem pesar, sem alegria, Sem alma, o tecelão, que cabeceia, Carda, retorce, estira, asseda, fia, Dobra e entrelaça, na infindável teia.” (OLAVO BILAC)
2)     Para isolar o vocativo: “Deixe-me, senhora.” (MACHADO DE Assis)
“Ó meu Amor, que já morreste, Ó meu Amor, que morta estás! Lá nessa cova a que desceste, O meu Amor, que já morreste, Ah! nunca mais florescerás?!” (CRUZ E Souza)
“Varrei os mares, tufão!...” (CASTRO ALVES)
3)     Para isolar o aposto:
 “Matias, cônego honorário e pregador efetivo, estava compondo um sermão...” (MACHADO DE Assis)
 “Dou-te meu coração irreverente, Meus penachos de Cid, o Campeador...” (José OITICICA)
4) Para assinalar a inversão dos adjuntos adverbiais:
 “Por impulso instantâneo, todo o ajuntamento se pôs de pé. (REBELO DA SILVA)
Nota: Aliás, sendo o adjunto adverbial de pouca longura, expresso, por exemplo, um simples advérbio, pode dispensar-se a vírgula.
5)     Para marcar a supressão do verbo:
“Uma flor, o Quincas Borba.” (MACHADO DE Assis)
“Eu sou empregado público: Tu, minha noiva bem cedo. Eu sou Artur Azevedo; Tu és Carlota Morais.” (ARTUR AZEVEDO)
6) Nas datas:
“Milão, 9 de março de 1909.” “Rio, 1 de junho de 1902.” “31, janeiro, 1902.” “Rio, 2-4-904.”
Nota: Os três primeiros exemplos são de OLAVO BILAC, e o último de Euclides da Cunha. Todos, de cartas a Coelho Neto. Observe-se que, invariavelmente, os nomes dos meses (março, junho, janeiro) estão grafados com letra minúscula. Tais cartas, primorosos modelos de epistolografia brasileira, estão publicadas na íntegra, no Manual de estilo, do professor José Oiticica (pp. 187 a 200).
7) Nas construções em que o complemento do verbo, por vir anteposto a este, é repetido depois dele por um pronome enfático:
“Arquiteto do mosteiro de Santa Maria, já o não sou.” (ALEXANDRE HERCULANO) “Ao pobre, não lhe devo. Ao rico, não lhe peço.” (RODRIGUES Lono)
8) Para isolar certas palavras e expressões explicativas, corretivas, continuativas, conclusivas, tais como:
por exemplo, além disso, isto é, a saber, aliás, digo, minto, melhor, ou antes, outrossim, demais, entretanto, com efeito, etc
9) Para isolar orações ou termos intercalados:
“A mim me parece, tornou Leonardo, que os títulos é cousa Conveniente e necessária.” ( RODRIGUES LOBO)
Nota: Se for muito longa a intercalação, ou quisermos dar relevo à palavra, expressão ou oração intercalada, poderemos usar o travessão: ‘Vi a ciência desertar do Egito... Vi meu povo seguir - Judeu maldito - Trilho de perdição...” (CASTRO ALVES)
Pode usar-se, ainda, os parênteses, e não a vírgula, quando a palavra, expressão ou oração intercalada figurar sem relação sintática com o resto, fora do fio principal do discurso, à maneira de um esclarecimento ou observação suplementar.
 Exemplos: ‘Pouco depois de transpor o portão da lúgubre morada, veio a mim um amigo vestido de preto, que me apertou a mão. Tinha ido visitar os restos da esposa (uma santa!), suspirou e concluiu: - Que há de novo?” (MACHADO DE ASSIS)
“É o fim (rola o trovão...) da miseranda sorte...” (OLAVO BILAC)
10) Para separar as orações coordenadas assindéticas:
 “Há sol, há muito sol, há um dilúvio de sol.” (HERMES FONTES)
“Não aquieta o pó, nem pode estar quedo; anda, corre, voa; entra por esta rua, sai por aquela; já vai adiante, já torna atrás; tudo enche, tudo cobre, tudo envolve, tudo perturba, tudo toma, tudo cega, tudo penetra...” (VIEIRA)
11) Para separar as orações coordenadas ligadas pela conjunção e, quando os sujeitos forem diferentes:
“Aires Gomes estendeu o mosquete sobre o precipício, e um tiro saudou o ocaso.” (JOSÉ DE ALENCAR)
“Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se.” (MACHADO DE ASSIS)
Nota: Para acentuar, numa enumeração, o vulto das coisas enumeradas, é lícito empregar repetidamente a conjunção e. Neste caso, as várias palavras, expressões ou orações, são separadas por vírgulas, apesar da presença do e.
Exemplos: “Seca a terra aparece, e nela é tudo Informe, e rude, e solitário, e mudo.” (J. A. DE MACEDO)
‘E eu morrendo! e eu morrendo, Vendo-te, e vendo o sol, e vendo o céu, e vendo Tão bela palpitar nos teus olhos, querida, A delícia da vida! a delícia da vida!” (OLAVO BILAC)
12) Para separar as orações coordenadas ligadas pelas conjunções : mas, senão, que, pois, porque, ou pelas alternativas: ou... ou;
ora.., ora,’ quer... quer, etc. 

“Não és filha, mas hóspeda da Terra!” (OLAVO BILAC) 461
“Não se deve julgar o homem por uma só ação, senão por tas.” (CARNEIRO RIBEIRO) “Fiquem-se com o Senhor, que eu vou-me.” (CASTILHO)
“Ou o conhece, ou não.” (VIEIRA)
Nota: Quanto à conjunção mas, se for muito frisante o sentido adversativo,
pode-se usar o ponto e vírgula.
Exemplo: Defenda-se; mas não se vingue.” (JOSÉ OITICICA)
13) Para isolar as conjunções adversativas porém, todavia, entretanto,
no entanto, contudo; e as conjunções conclusivas: logo, pois, portanto, "Contudo, ao sair de lá, tive umas sombras de dúvida..." (MACHADO DE Assis)
“Nada diminuía, portanto, as probabilidades do perigo e a poesia da luta.” (REBELO DA SILVA)
14) Para separar as orações consecutivas:
 Exemplo: “(...) e o fulgor das pupilas negras fuzilava tão vivo e por vezes tão recobrado, que se tornava irresistível.” (REBELO DA SILVA)
15) Para separar as orações subordinadas adverbiais (iniciadas pelas conjunções subordinativas não-integrantes), quer antepostas, quer postas à principal.
Exemplos: “Juro que ela sentiu certo alívio, quando os nossos olhos se encontraram...” (MACHADO DE ASSIS)
 “Enquanto o senhor escarneceu o feitio das minhas botas, e no seu ofício e no seu direito. Das botas acima, não.” (CAMILO CASTELO BRANCO)
16) Para separar os adjetivos e as orações adjetivas de sentido explicativo, ou, como lhes chama o professor José Oiticica, orações adjetivas e adjetivos parentéticos.
“É indispensável, nesse caso, distinguir se a oração é mesmo parentética ou meramente determinativa. A oração parentética, em por seus característicos de forma e posição seja adjetiva, tem, no sentido, algo de adverbial, apontando vagamente a causa, a concessão, a condição.
 “Exemplos: A cabroeira, alucinada, gritava atrozmente (isto é: porque estava alucinada). A ele, que é o decano da corporação, nenhum preito lhe renderam (isto é: apesar de ser o decano da corporação...). “O critério para verificar isto é tentar a inversão. A oração parentética pode ser anteposta ao substantivo a que se prende; a determinativa, nunca. Assim, temos: - Alucinada, a cabroeira gritava atrozmente. - Decano da corporação, nenhum preito lhe renderam.” *
17) Para separar as orações reduzidas de gerúndio, particípio e infinitivo.
 Exemplos: “Lactescente, a neblina oplica flutua, Diluindo, evaporando os montes de granito, Em colossos de sonho, extasiados de lua...” (GUERRA JUNQUEIRO) “Puma! ao fim da Renúncia e ao fim da Caridade Chegaste, estrangulando a tua humanidade.” (OLAVO BILAC)
“A brisa, roçando as grimpas da floresta, traz um débil sussurro...” (JOSÉ DE ALENCAR) “Caindo o sol, a costureira dobrou a costura para o dia seguinte...” (MACHADO DE Assis) “Satisfeita a sede... e comidas umas colheres de farinha de mandioca ou de milho..., estira-se a fio comprido sobre os arreios desdobrados...” (VISCONDE DE TAUNAY)

“Pera servir-vos, braço às armas feito; Pera cantar-vos, mente às Musas dada...” (CAMÕES) 

Texto retirado da Grámatica Normativa da Língua Portuguesa , do Professor Rocha Lima. 


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